sábado, 30 de agosto de 2008

Rei Menino

(Teve ele os sonhos mais lindos jamais sonhados, e fez ele um enorme balão... o qual encheu com seus sonhos e esperanças... e deu ao povo que amava. Veio o homem, racional e senhor da criação e furou o balão.) Mestre Biriba.

Era uma vez, um reino distante e pacato habitado por crianças, era um reino pequeno, governado por um reizinho também pequeno, que vivia feliz com o seu reino e os súditos que o cercavam, no reino do povo em miniatura tudo era alegria, as nuvens brincavam no céu azul e a chuva rotineira sempre era saudada com muitas gargalhadas, o vento suave soprava, eterno e firme trazendo vida e esperança aquele povo.

Reino mais lindo jamais voltara a existir, o pequeno rei o havia criado com o seu próprio coração, de seus olhos brotava as águas que a tudo dava vida, e seu sorriso trazia conforto e alegria a população, sua pele se confundia com os campos verdejantes e as planícies distantes.


Era o rei sábio e prudente, mais ainda assim uma criança como todas as outras, andava o tempo todo descalço, e tinha os cabelos compridos, escorridos pelo rosto, dono de um sorriso maroto e eterno, era o reizinho sincero em suas crenças, o povo o amava e admirava, e assim a vida seguia seu rumo naquele pequeno reino, escondido e intocado pelo homem, onde amar era a única lei, onde todos eram irmãos e irmãs e a vida brotava sem pudor ou constrangimento.


Foi então que as margens do mar dos sonhos encontraram um homem trazido pelas ondas da vida, o homem fora tratado como um deles e como um deles viveu por muito e muito tempo, mas algo mudara o rei perdera o sorriso, e o vento leve fora substituído por uma brisa fria e repressora, o povo teve vergonha de sua nudez, e aos poucos regras foram sendo criadas, e perguntas formuladas, já não bastava a imaginação do pequeno reizinho para respondê-las como em certa vez num banquete em homenagem lua em que o reizinho explicava a todos as dificuldades que teve em criar as nuvens em algodão doce... Mais tudo agora mudara no reino dos pequeninos, agora não bastava, mais a imaginação do rei menino... Era necessário disciplina, razão e lógica, e o homem que com eles agora habitava deu a eles em retribuição a forma que fora tratado o dom do conhecimento e as leis que faziam seu mundo funcionar e que encantava os ouvidos daquele povo pequeno e sonhador.


O rei então adoeceu, e com ele o reino que ele criara! O reino dos pequeninos fora mergulhado em escuridão, o povo sentia fome e dor, algo nunca experimentado antes, mas aprenderam com o homem trazido pelas ondas da vida, que aquilo era normal, e era o preço a se pagar para se alcançar o paraíso, e falou ele então sobre o paraíso, as flores que lá nasciam às nuvens que lembravam algodão, sob o vento suave que nunca deixa de soprar trazendo esperança e paz à alma, e por horas a fio descreveu o rei menino que com amor conduzia aquele povo.


E ao fim da narração escutaram o grito do pequeno rei que diante de seus olhos começou a crescer até se tornara um homem feito, de olhos fundos e vazios, pele flácida e corpo doente. Aquela figura agora sombria que outrora fora seu reizinho, sorriu, mas não havia mais luz em seu rosto, e apoiando-se num galho de arvore cambaleou para dentro do abismo do tempo. E o povo pequenino em desespero percebeu já tardio que eles abandonaram o rei menino presente entre eles, iludidos pelo homem, eles sem perceber destruíram o paraíso a eles ofertado. Então em pânico o povo pequenino viu seu cordão umbilical ser cortado e entre os espíritos abortados eles foram lançados, e junto ao homem trazido pelas ondas da vida, esperam o dia que o rei menino voltara.

Fim.


Texto do Livro - Contos de Biriba - A ser lançado!

Nenhum comentário: